A cidade de Lisboa é tradicionalmente denominada como a cidade das sete colinas, quando vista do Rio Tejo: São Vicente, Santo André, Castelo, Santana, São Roque, Chagas e Santa Catarina. Contudo, os limites estabelecidos por essas colinas foram há muito ultrapassados pelo crescimento da metrópole.
Em termos geomorfológicos, a região de Lisboa pode ser subdividida em 2 unidades principais: a unidade correspondente aos terrenos da Bacia Cenozoica do Tejo-Sado e a unidade dos terrenos correspondentes à Bacia Lusitaniana (ou Orla Ocidental Mesozoica Portuguesa), Foto 1.
Foto 1 – No bairro da Ajuda (Rio Seco), uma enorme caverna surpreende quem por ali passa devido às grandes dimensões da sua entrada, atualmente enquadradas do ponto de vista paisagístico por um parque urbano que constitui zona de lazer para os moradores da localidade.
Os afloramentos Cretácicos estendem-se desde a zona central e mais elevada da Serra de Monsanto, seguindo pelo vale de Alcântara até praticamente ao rio Tejo, prolongando-se para SW ao longo da encosta do bairro da Ajuda. Outros pequenos retalhos afloram na zona de Pedrouços, na zona Norte do Parque Florestal de Monsanto (perto de Calhariz de Benfica), na zona do largo do Rato e no Parque Eduardo VII, todos eles no seio do Complexo Vulcânico de Lisboa. Este “Complexo Carbonatado Cenomaniano” é constituído por espesso conjunto de calcários, calcários margosos, calcários dolomíticos, margas e argilas margosas com níveis fossilíferos.
No Geomonumento de Rio Seco aflora a Formação da Bica, pertencente ao Cenomaniano Superior, Diaporama 1.
Diaporama 1 – Fotos do Geomonumento de Rio Seco. Os rudistas (Ordem Rudista) são um grupo extinto de bivalves – com um aspecto muito diferente do dos bivalves que conhecemos da actualidade – que existiu desde o Jurássico superior até ao final do Cretácico da Era Mesozoica (durante cerca de 90 milhões de anos). Habitavam em ambientes marinhos pouco profundos, com águas quentes, tropicais, normalmente semienterrados no fundo lodoso, formado por vasa carbonatada.
Formação de Bica
Esta unidade é composta por calcários compactos de cor branca, rosada a avermelhada e apresentam-se mais margosos para o topo da unidade onde alternam com margas amarelas, rosadas e esbranquiçadas. Os calcários compactos são os dominantes nesta unidade, podendo chegar a apresentar-se cristalinos com ocorrência de nódulos de sílex, alternando com calcários apinhoados e com calcários com uma componente margosa. É característica desta formação a presença de conteúdo fossilífero sob a forma de rudistas, foraminiferos, ostracodos, tubos de serpulídeos, esponjas, algas, gastrópodes, bivalves e equinídeos, do qual se salienta o amonóide Neolobites vibrayeanus que já serviu para diferenciar e denominar esta unidade. Esta unidade apresenta cerca de 50 metros de espessura na região de Lisboa.
No geomonumento de Rio Seco é possível interpretar um episódio de transgressão marinha, que criou condições para a sedimentação de vasas num ambiente marinho, litoral, de águas quentes e pouco profundas (“Formação de Caneças” e “Formação de Bica”). Neste geomonumento de Rio Seco, um dos vários afloramentos geológicos existentes na região de Lisboa do Cenomaniano é possível observar excelentes exemplares de Rudistas em afloramento.